Fidelidade – Por Dom Orlando Brandes
Vivemos num mundo que valoriza mais a liberdade, a mudança, individualismo, a modernidade, e descarta a fidelidade. Além disso, a fidelidade encontra obstáculos na natureza humana frágil, ferida, volúvel. Tudo converge mais para a facilidade que para a fidelidade.
Mesmo assim, cremos que a fidelidade é possível, é remédio para vida conjugal, para o ministério sacerdotal, para a amizade, para a convivência humana e principalmente para o relacionamento com Deus. Por outro lado, hoje falamos de fidelidade partidária, fidelidade à palavra dada, às promessas, às leis, ao horário, ao cumprimento do dever. Sem fidelidade cairíamos na anarquia e no caos.
Há também distorções da fidelidade. Há quem é intolerante, radical, extremista, orgulhoso e chama isso de fidelidade. Outros são fanáticos, obsessivos, excludentes em nome da fidelidade. Os desconfiados, ciumentos, medrosos, inseguros são apegados a uma fidelidade neurótica, agem mais por medo que por convicção.
Precisamos então de uma visão e prática positiva da fidelidade. Antes de tudo trata-se de um bem para a pessoa humana visto que lhe confere consistência, orientação de vida, integração pessoal. A fidelidade salva a pessoa das flutuações das paixões, da dispersão e desorientação da vida, enfim, é um grande recurso. Sem fidelidade ninguém chega à maturidade, nem à santidade. Todos precisamos deste recurso que abre tantas portas e caminhos para nossa vida. Ai de nós, se o piloto, o motorista, o médico não fossem fiéis. Estaríamos perdidos e na mais completa frustração.
Sem dúvida, a fidelidade familiar, livra os esposos, pais e filhos de traumas, frustrações, fracassos e doenças. A fidelidade é uma dimensão essencial do amor. Deus é fiel à sua aliança com a humanidade e isso significa amor fiel. Sim, o amor é fiel porque é justo, verdadeiro, honesto, respeitoso, nobre. Mais ainda, o amor é incondicional, tem capacidade de perdoar. Este é o poder da fidelidade.
A comunidade humana, a sociedade precisam da fidelidade para segurar a ordem social. Na realidade os justos, os pacíficos, os amigos da verdade, os mestres dos valores são antes de tudo pessoas fiéis. A fidelidade confere à sociedade estabilidade social, confiança recíproca, que promove e sustenta a liberdade porque possibilita o relacionamento, a comunicação, a amizade sadia, verdadeira e duradoura.
A fidelidade autêntica é criativa. Fidelidade não é sinônimo de mesmice, rotina, mediocridade. Percebemos a criatividade da fidelidade quando sabemos valorizar o passado e acolher o presente, respeitar a tradição e abraçar a atualização, o novo, as circunstâncias, as mudanças. Portanto, a fidelidade é ativa, progressiva, atenta à realidade, aberta ao desenvolvimento.
Como é bom, saudável e prazeroso saber que Deus é fiel ao seu amor. Quanta alegria sentimos quando o aluno é fiel, quando o paciente, o esportista, o motorista, o professor, o político, o religioso são fiéis. Mais ainda, o cônjuge fiel é o sustento da família, protetor do casamento, segurança dos filhos, benfeitor da sociedade, visibilidade do Deus fiel.
Somos rigorosos e exigentes com marca de fidelidade de tudo o que compramos. Exigimos os comprovantes de fidelidade. Criamos a fidelidade partidária. Sim isso é necessário e compreensível. Precisamos dar um passo ulterior, ou seja, criarmos a “cultura da fidelidade”, pois estamos escravizados pelo império da mentira. Vivemos mais de aparências que de transparência, coerência, inocência. A fidelidade é o remédio para a epidemia da corrupção e para o combate à falsidade. Viva a fidelidade.
Dom Orlando Brandes
Fonte: Arquidiocese de Londrina
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